Frei Walfrido, o Brasil agradece

Frei Aloísio Fragoso

Ao longo de minha vida, conheci muitos brasileiros apaixonados pelos Brasil e provando esta paixão em atos de amor ao povo, poucos, no entanto, comparáveis a Frei Walfrido Mohn, que é alemão. Há mais de 60 anos, ele trocou sua pátria pela nossa com uma única intenção: servir. Não foi o primeiro, não foi o único, não foi o último. Quantos, porém, alcançaram, como ele, a perfeita conjugação entre o desejo de servir e o objeto do seu devotamento? Neste item ele está entre os primeiros e os únicos.

Frei Walfrido é um frade franciscano. Com S. Francisco aprendeu o caminho de realizar sonhos, pois somente a obsessão de um grande sonho explica seu itinerário de vida, sua dedicação, sua incontestável capacidade de inculturação.

Um dia o jovem S. Francisco entrou em crise com o seu mundo, seu modo de vida, sua Igreja, sua família, perguntando-se a cada momento "Senhor, que queres que eu faça?" Nenhuma resposta o satisfez, até o momento em que, vencendo sua repulsa natural, numa estrada de Assis, deparou-se com um leproso e o abraçou e o beijou. De repente ficou sabendo quem era Deus, onde Ele estava e o que Ele queria. ("o que fora, para mim, motivo de asco converteu-se em doçura do corpo e da alma", escreve ele em seu testamento.)

Desde então, o "beijo no leproso" converteu-se na imagem representativa de toda vocação franciscana. Nenhum seguidor de São Francisco encontra sua identidade vocacional enquanto não descobre a figura do "leproso" à espera do "beijo". Frei Walfrido a encontrou em meio aos pobres do Nordeste. Dar-lhes a vida, provar-lhes o amor passou a ser sua paixão permanente.

Logo depois do Concílio Vaticano II, quando a Igreja confiou no Espírito Santo e abriu suas janelas para deixar entrar as aragens do mundo moderno, Frei Walfrido foi retirado de uma humilde paróquia da Paraíba e eleito para um cargo de grande responsabilidade, Ministro Provincial dos Franciscanos.. Aí ele revelou-se uma têmpera de ferro aliada a um coração terno, provou como humildade e ousadia são forças parceiras e complementares e foi plantando as sementes renovadoras de uma nova Igreja em todo o território da nossa Província.

Como sempre acontece com os profetas autênticos, virou um sinal de contradição, alvo de aprovação e aplausos e, ao mesmo tempo de maledicências e dissidências. A despeito disso, deixou uma marca indelével em nossa Província que ainda hoje frutifica.

É difícil ser profeta no exercício do poder. Onde ele não conseguiu superar esta dificuldade, estimulou outros a que o fossem, com seu apoio incondicional.

Houve um momento em que a coerência exigiu dele um ato de temeridade: mesmo sendo estrangeiro, assinou a carta dos bispos nordestinos denominada "ouvi os clamores do meu povo", carta esta que provocou a ira e a repressão da ditadura militar.

Os incansáveis trabalhos ´que lhe roubaram as energias físicas, deixaram intacto este fogo da paixão que o mantém vivo e ativo aos 90 anos, incondicional paixão pelos pobres de Deus.

Nenhuma Assembléia de Deputados irá conceder-lhe o diploma de cidadão brasileiro. Não que lhe faltem méritos para isso, porém sobra-lhe humildade para ser honrado e ovacionado em palanques oficiais. Ele sempre agiu nos bastidores, deixando que outros brilhassem em sua volta.

Certamente, na memória de todos que o conheceram, ele será imortalizado como exemplo excepcional de um estrangeiro que se fez inteiramente brasileiro, a fim de servir e amar o povo deste país. Obrigado, Frei .Walfrido, o Brasil agradece. Feliz aniversário!

Aloísio Fragoso, OFM

Posted in: