Minhas irmãs e meus irmãos,
PAZ E BEM!
Festas, luzes, flores, incensos,
canções. Da Catedral do Bispo de Roma às periferias e sertões de nosso imenso
Brasil, estamos fazendo memória de um acontecimento que marcou e mudou
definitivamente a história da humanidade: O anunciado pelos profetas, O
esperado das Nações, O Filho Amado de Deus
“transcorrido nove meses, nasce em Belém da Judeia da Virgem Maria, feito
homem: Natal
de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo a natureza humana.”
(Cf. Kalendas).
Sabemos
no entanto, que o Natal não é simplesmente comemorar o dia do nascimento de
Jesus; é muito mais: é voltar toda nossa atenção e sentimentos para a gruta de
Belém, lá onde em meio aos animais: boi e burro e junto a tantas outras
criaturas, entre estas às do Céu, viu-se o Verbo se fazendo Carne e armando sua
tenda entre nós; justamente por que não havia em nenhuma hospedaria, lugar para
ele e sua família! Em nosso Rito Romano, de forma orgânica, esta Solenidade surgiu
a partir do século IV, tendo como data o dia 25 de dezembro, de acordo com um
antigo documento intitulado “Cronógrafo Romano”. Lucas vai narrar em seu
Evangelho de forma admirável e quase inacreditável como se deu o nascimento do
Menino, este que sendo o “Conselheiro
admirável, Deus forte, Pai dos tempos futuros, Príncipe da Paz.” (Cf. Is 9,5),
quis vir ao mundo e manifestou-se a nós “envolto
em faixas e repousando numa manjedoura”. (Cf. Lc 2,7). É a Liturgia da sobriedade
e da ternura, da contemplação e do silêncio, da essencialidade e da
profundidade!
O
Natal convida-nos ainda para assumir corajosamente uma cultura de mais
simplicidade e menos espalhafatos; de deixar pelo caminho o peso e amarras que
impendem a vivência alegre do Dom do Evangelho. A Encarnação de Deus na terra
dos homens deixa-nos ainda uma lição de contrariedade: Para os que projetam
suas vidas na segurança dos ‘palácios de Herodes’: Ele nasce no chão duro e no
esquecimento de um estábulo! Para os que escolhem a força e o domínio: Ele vem
na fragilidade de uma criança! Para os que fazem questão de semear discórdia,
divisão e criar muros: Ele promete através do profeta Isaias: “O lobo e o cordeiro viverão juntos e o
leopardo deitar-se-á ao lado do cabrito; o bezerro e o leão comerão juntos e
até mesmo uma criança poderá tangê-los.”. (Cf. Is 11,9). Aos que se deixam
encantar tão somente pelas esplendorosas Catedrais e pelos Templos do consumismo no dizer de Frei Beto - dominicano; pelas
roupas de grife, pelos perfumes importados, por uma farta ceia regada de ricas
iguarias onde somente um pequeno grupo pode participar: Ele numa Liturgia da
Criação, reúne em torno de si; os que para a sociedade de seu tempo eram
considerados indignos, pobres, sem vez e nem voz: os pastores, que naquela
noite passariam na solidão das pastagens se não fossem visitados pelos Anjos. A
comunidade daquele Menino estava, pois, constituída: Maria, seu esposo José e o
Menino, os animais, os pastores e os Anjos! Quanto canto e encanto nesta Noite Iluminada
e nem precisaram trocar presentes, foram simplesmente presença! É a cena que
marcou profundamente o Santo de Assis que em plena Idade Média quis reviver com
muita originalidade os sentimentos vivenciados pela comunidade do Menino.
Francisco de Assis, tomando o Menino das Palhas numa dança alegre, própria de
quem vive bem o Evangelho, redescobre o caminho da felicidade que não está em
grandes coisas e posses, mas na singeleza da Criança; naquele Olhar contemplado
no presépio que não pisa e não condena mas que ao fazer-se um de nós, nos
tornou eternos, nos divinizou! É a Liturgia de um Deus que se fez gente, de um
Deus que chora e que ri conosco, de um Deus que fez questão de ser o Emanuel.
Na
celebração do Mistério da Encarnação somos então inseridos numa Espiritualidade
humana e humanizadora que é celebrada na Sagrada Liturgia e que está impregnada
do carinho, da ternura, da presença, da fraternidade, do encontro e do
reencontro, das idas e vindas, da renovação dos tantos sonhos e esperanças, às
vezes esquecidos ou até desacreditados. E assim, vai renascendo em nós O Sonho
daquele Menino: “Eu vim para que todos
tenham vida” (Cf. Jo 10,10). E por que o Menino é teimoso, seu Sonho
continua neste final de ano e continuará no ano que se aproxima e há de seguir
até que todos sejam respeitados e valorizados em seus direitos e dignidade e por
que ele gosta de sonhar para todos e todas; nenhum de nós nos sintamos
excluídos!
Votos
de que a Solenidade da Encarnação de Jesus no tempo e na espaço nos faça redescobrir
e assumir sempre mais a grande graça que nosso amado Papa Francisco nos lembrou
em sua primeira Exortação Apostólica: a de que temos um Tesouro maior do que
todas as riquezas materiais, tesouro este encontrado e tão bem vivida por São
Francisco de Assis – A “EVANGELII GAUDIUM”! (ALEGRIA DO EVANGELHO).
Boas festas!
“Mas nem você, nem eu, ninguém
diria: um Deus no colo Virgem de Maria, ponhe numa gruta todo Paraíso na
manjedoura faz sublime Altar!”
O
irmão e amigo,
Frei
Erivaldo Valdomiro da Silva, OFM.